Se todo filme conta histórias, cada cinema se torna forte ou fraco de acordo com o modo como os relatos impõem aquilo que têm a nos dizer. Sob tal articulação, uma gama de situações e soluções se apresenta na seleção de seis produções assinadas por diretores brasileiros deste Indie. As duas ficções e os quatro documentários apontam para modos de narrar que não se encontram delimitados, encerrados sob bolhas, em seus pontos de partida. Em todos, reconhece-se a onipresença do fascínio por histórias.

É o que mais ocupa a atenção no modo como Carla Gallo encadeia as experiências das mulheres que se submeteram à interrupção da gravidez em "O Aborto dos Outros". Assim, cada relato funciona para redimensionar o significado da palavra “aborto”, ainda sujeita a preconceitos e limitações de ordem religiosa.

Encontros também constituem a matriz de "Pachamama", no qual Eryk Rocha opta por um modo de captar os acontecimentos que assume os riscos de valorizar o momentâneo e o acaso. Sua qualidade maior reside não na politização do discurso, mas no tornar única e inconfundível cada situação individual.

Como individualizar uma história? É o desafio que Carlos Nader se impôs ao prestar sua homenagem a Wally Salomão em "Pan-Cinema Permanente". Em vez de restaurar uma vida ao modo oficial das hagiografias, Nader opta por deslizar suas câmeras em torno das personas de Wally, que sempre se recusam ser totalmente controladas ou mesmo desvendadas. Enquanto se assumem outras, delirantes e mascaradas, as personas estimulam o documentário a propor, tanto para seu objeto como para nós, formas sempre mutantes.

O mesmo reinventar-se testemunhamos diante da "Tomba Homem" de Gibi Cardoso, cujo personagem permite ao filme se constituir na medida em que suas memórias costuram um relato vivo e sorrateiro.
É ainda sob esta lógica que se inserem as duas ficções. "Rinha", num âmbito mais tradicional no qual a voz over se ocupa, literariamente, de descrever fatos aponta se não a descrença, o esvaziamento do poder das imagens.
"O Grão", por sua vez, transforma um relato oral em desafio para o espectador usar a imaginação enquanto presta com luz e câmera um tributo ao poder da imagem. (Cássio Starling)