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Pense bem. O que são 10 anos?
Sob a perspectiva de uma criança nascida em 2001...quase 1 metro a mais, com autonomia para ler, somar, dividir e traços de um pré-adolescente que odeia redação.
Sob a perspectiva de quem estava se formando na faculdade em 2001...talvez um emprego mais estável, menos tempo para vagabundar, o adeus à juventude.
Sob a perspectiva de um homem maduro... uma série de novos projetos, alguns concluídos, outros falidos, decepções e por aí vai.
Sob a perspectiva de um casamento... um filho ou dois, talvez uma separação, um novo começo.

A vida passa muito rápido, o que fica?

Sua coleção de livros e dvds,
seus filmes preferidos listados num papel amassado,
seus objetos de coleção bem guardados em caixas empoeiradas e amareladas,
suas manias permitidas,
suas pilhas de livros, desalinhadas,
sua memória dos tempos da faculdade,
as fotos de seu filho engatinhando,
as saudades da casa da vó, do bolo quente saindo do forno...
ficam as lembranças... (e são tantas!)
do cheiro de pastel do clube,
o dodge dart vermelho de capota preta do seu pai,
o primeiro carro de sua irmã com antena elétrica,
um casaco azul de lã, da outra irmã,
o LP do Chico e Betânia, que arranhou de tanto tocar,
o cigarro de menta,
os carnavais de rua no interior,
as férias na praia,
as feiras de rua na companhia de sua mãe,
os óculos estilo John Lennon do seu colega de classe,
os decalques de flores que você molhava num prato com água pra colar em todo lugar,
a camiseta “protect the dolphins” do amigo de seu amigo da faculdade,
a enciclopédia Barsa completa e você nem abriu...
suas camisetas indianas,
sua sandália de couro da feira hyppie, seus lenços,
seus primeiros LPs dos Smiths,
sua primeira Barbie que guardou pra sua filha,
o cubo mágico que você, confessa, nunca conseguiu montar.

A memória de que o ar era melhor, a vida era mais pacata, mais concêntrica, sem nada online.

O tempo otimista goteja:
tic tac tic tac
O que permanece lá, derramando?

10 anos se passaram para uma cidade, o que significa?
Asfalto queimando no sol durante anos...
Novas avenidas, novos parques, novas casas, novas áreas públicas, novos cinemas?
Hum... não necessariamente.
Mais shoppings, menos casas, menos árvores...
Cinemas históricos que se fecham: desolação.

O tempo cruel goteja:
tic tac pow!
O coração pára.

Quando pensávamos em comemorar nossos 10 anos bem vividos de INDIE, não queríamos ignorar que o espaço para o cinema de rua, em todo o Brasil, está cada vez menor e formar novos públicos para este cinema é missão deste festival.

Para o INDIE, estar pela primeira vez aqui no CCBB RIO - num dos mais importantes centros culturais do Brasil, lugar por excelência para o cinema independente, é um grande motivo de celebração e estímulo para que o festival prossiga com suas intenções.

Na vida pessoal não é certo querer moldar o outro. Na vida de um festival, muito menos. E talvez este seja o primeiro festival a lhe dizer isso. Será que podemos ter tantas pretensões assim?

Mas sabemos que estas escolhas, nestes 10 anos, foram as escolhas que fomos capazes de fazer.
Por você, nosso amado espectador, mas principalmente por nossa volição estética.
Por nosso modo de entender o cinema.
Por nossa crença de que um filme pode mudar seu espírito, de que um festival deve ser uma representação de conceitos e ideias próprias.
Um festival não deve copiar outros e nem se pautar em coisas supérfluas.
Um festival precisa de filmes que possam captar a cada dia mais jovens espectadores.

O INDIE, apesar de sua recente história, é muito mais do que um festival,
é algo além de você e de mim,
é um estado de espírito,
é uma atitude,
INDIE é uma marca.
INDIE quer dizer independente, vigoroso.
INDIE é um conceito,
um certo modo de fazer,
uma maneira própria de ver as coisas.

e por mais que não seja possível mudar o outro,
seja indie!
e, se der, nos acompanhe.

Francesca Azzi
Diretora da Zeta Filmes e curadora do Indie 2010